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Violência política no México expõe luta do narcotráfico por municípios

A menos de um mês de eleições, país contabiliza mais de 100 líderes políticos assassinados desde setembro. Índice de homicídios bateu recorde em 2017

A menos de um mês das eleições para presidente, senadores e deputados federais no México, o país contabiliza mais de 100 líderes políticos mortos desde setembro de 2017, quando começaram as campanhas.

Pelas contas da Etellekt — agência mexicana de análise de risco —, são mais de 400 casos de violência política, incluindo ameaças e agressões.

Para Adrian Lavalle, especialista em América Latina e professor doutor no departamento de Ciência Política da USP (Universidade de São Paulo), os números comprovam que o crime organizado mexicano atua também na esfera eleitoral.

“Sempre existiram políticos mortos por proximidade com o narcotráfico no país, mas não na escala observada em 2018”, alerta Lavalle. “A maior parte dos assassinatos neste ano ocorreu com pré-candidatos em nível municipal — o que nos diz que o narcotráfico executa quem se opõe aos seus interesses já no momento em que se organizam as campanhas. Isso nos leva à projeção preocupante de que, em breve, boa parte dos municípios no México estarão controlados, de alguma forma, pelo narcotráfico e crime organizado.”

Os quatro estados mais afetados, segundo o levantamento da Etellekt, são Guerrero, Oaxaca, Puebla e Veracruz. Eles se situam no sul do país e são dominados pelo chamado Cartel de Jalisco Nova Geração — organização criminosa dedicada ao tráfico internacional de drogas e armas, terrorismo, assassinatos, sequestros e extorsões.

História do crime

As estatísticas mostram que, no México, o alto número de assassinatos está longe de se resumir ao campo político. Segundo dados oficiais do Ministério do Interior, mais de 23 mil inquéritos de homicídio foram abertos em 2017 — o maior índice em duas décadas.

De acordo com o professor da USP, a origem de tamanha violência remonta à forma peculiar como o país transitou para a democracia. “No século 20, o regime de governo incluía o partido de Estado: um único partido que monopolizava a política, enquanto outras legendas menores existiam sem nenhuma chance real de ascender ao poder”, explica Lavalle.

Naquela época, havia um controle muito centralizado da vida política nacional e do crime. “Quando existia o crime, ele tendia a ocorrer por dentro das relações do próprio regime. A atividade criminosa era praticamente paraestatal. As violações da lei eram controladas ou aconteciam sob certa coordenação centralizada”, diz o especialista.

A coisa mudou de figura com a ascensão do oposicionista Vicente Fox à Presidência, em 2000. A partir de então, os poderes locais ganharam autonomia e passaram a tomar decisões independentes em relação às alianças com os criminosos.

“Simultaneamente, o tráfico no país começou a crescer. O México, que tradicionalmente era um corredor de passagem de drogas dos Estados Unidos para a Colômbia, tem parte dessa atividade comprometida pela política americana de endurecimento das fronteiras. Os criminosos passaram a investir no mercado interno. A consequência são disputas de organizações ligadas ao narcotráfico pelo controle de diferentes regiões — e o aumento constante da violência”, detalha o professor da USP.

Em linhas amplas, os governos que se seguiram no México desde o início do século 20 adotaram políticas de combate exclusivo ao comércio clandestino de drogas — o que fez com que as redes criminosas passassem a operar também com atividades como tráfico de pessoas e órgãos, sequestros e extorsões.

O tema, é claro, entrou em pauta no debate eleitoral de 2018. Mas, para Adrian Lavalle, quase nenhum dos principais concorrentes à presidência apresentou diagnósticos claros ou propostas efetivas a respeito do assunto.

“O cenário é preocupante. O único candidato que me parece ter apresentado medidas específicas para a questão da violência generalizada é López Obrador — que propôs criar uma guarda nacional, destacando um braço do Exército para proteger a população”, afirma.

Coincidência ou não, Andres Manuel López Obrador — candidato de esquerda que foi prefeito da Cidade do México — já conquistou o dobro do apoio de seu rival três semanas antes das eleições, segundo levantamento da Ipsos, empresa internacional de pesquisa e inteligência de mercado. Ele tem 41,7% das intenções de voto, enquanto Ricardo Anaya — candidato de uma coalizão entre esquerda e direita — conta com 21% dos eleitores. O governista José Antonio aparece apenas em terceiro lugar nas pesquisas, com 13,6% de apoio. O resultado da disputa será conhecido nas urnas em 1º de julho.

FONTE: R7.COM

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Gomes Oliveira

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