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Tensão com a China cresce à medida que eleições nos EUA se aproximam

Relação entre dois países, estremecida desde antes da pandemia, tornou-se o centro do discurso eleitoral de Trump e ameaça relações econômicas

Desde antes do começo da pandemia do coronavírus, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, havia definido o Inimigo Número Um da Nação: a China. Com constantes ameaças, comentários contundentes e racistas e uma guerra comercial, Trump deixou claro que a relação diplomática com o gigante asiático estava comprometida.

Com a pandemia, Trump mudou a retórica, deixou as ameaças de sanções econômicas de lado e passou a culpar diretamente o país pela disseminação da covid-19. Nesta sexta-feira (29), o presidente norte-americano fez um pronunciamento em tom elevadíssimo em termos diplomáticos: anunciou que estava rompendo relações com a OMS (Organização Mundial da Saúde) por ela ser controlada pela China. Os chineses ainda foram acusados de espionagem, especialmente em relação aos progressos no tratamento da covid-19.

A China notificou um aumento no número de casos de pneumonia no país no final de 2019 e, em 2020, anunciou que o novo coronavírus pode ter saído de um mercado na cidade de Wuhan. Até o momento, não se sabe como o coronavírus apareceu e qual o animal responsável pela doença, mas o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, disse que há “provas” de que o vírus veio de algum laboratório chinês. Em abril, apareceram evidências do coronavírus pelo mundo antes da notificação da China, em dezembro.

Apesar das incertezas sobre o vírus, Trump já encontrou um culpado e disse que pediria uma “indenização” à China pelos prejuízos causados pela doença. Os Estados Unidos são o país mais afetado pela covid-19, com mais de 1,7 milhão de infectados e mais de 100 mil mortos. Apesar dos números, Trump nunca decretou quarentena nacional, criticou o isolamento, faz campanha contra as máscaras de proteção e pressiona governadores e prefeitos pela reabertura da economia.

Com o aumento das tensões, o futuro da relação diplomática dos dois países fica incerto, mas especialistas concordam que a estratégia de Trump em culpar a China é uma estratégia eleitoral.

Pandemia como discurso eleitoral

Dentro de seis meses, os Estados Unidos terão que escolher o novo presidente. A decisão está entre o republicano Donald Trump, que busca uma reeleição, e o democrata conservador e moderado Joe Biden.

Com uma corrida eleitoral diferenciada, os dois usam a pandemia do novo coronavírus como discurso eleitoral. Trump atacando e culpando a China pelo prejuízo causado e Biden conquistando os eleitores que foram prejudicados pela pandemia e a má gestão de Trump.

Para o professor de Relações Internacionais da ESPM e economista Leonardo Trevisan, a culpabilização do outro é uma estratégia antiga em discursos eleitorais.

“Todos os presidentes que buscam a reeleição buscam um inimigo externo, de forma que isso una o país em torno dessa ameaça”, explica. “Esse é um discurso eleitoral muito eficiente”.

Porém, a estratégia de Trump pode estar causando mais prejuízos que ganhos. Segundo o especialista, a opinião generalizada é de que o presidente está forçando a mão em relação à China, com constantes críticas e comentários racistas. O presidente chegou a chamar o coronavírus de “vírus chinês” e foi fortemente criticado.

Em pesquisas feitas por veículos de mídia americanos, Biden desponta como favorito, inclusive em uma pesquisa feita pela Fox News, emissora de televisão ligada ao presidente, que mostra que o democrata está pelo menos 7 pontos à frente de Trump.

“Os Estados Unidos tem 35 milhões de pedidos de desemprego, a pandemia fez um estrago na economia norte-americana. É muito difícil que quem perdeu o emprego vote no governo, esse quadro não favorece Trump”, diz Trevisan.

Por outro lado, esse cenário é bastante positivo para Joe Biden, que está fazendo uma campanha mais silenciosa e menos estridente que Trump, e consegue convencer os desempregados e antigos eleitores republicanos que ele é uma boa alternativa para o cenário caótico de agora.

“Biden está sendo muito cauteloso, ele tem um discurso muito progressista. Ele está tirando o eleitorado do Trump mostrando que ele é moderado, conservador”, explica o professor.

Entre tarifas e parcerias

Desde que Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos, em 2017, os problemas com a China começaram a se agravar e tomar maior dimensão. O que antes era uma relação diplomática e menos contundente, se tornou uma constante troca de farpas e guerra em diferentes setores.

O professor de Relações Internacionais da ESPM, especialista em China e ex-diplomata brasileiro no país asiático, Fausto Godoy, explica que a China se tornou um problema para os Estados Unidos depois que o país mudou o perfil econômico e político e começou a crescer e se desenvolver.

Se no século 20 a China era um país pobre, lidando com a pobreza e a miséria e exportando produtos baratos para o mundo, a China do século 21 é um gigante da tecnologia, referência em desenvolvimento e o principal parceiro comercial de 123 países, enquanto os EUA são de 54 países.

Apesar da tensão entre China e EUA nunca ter escalado ao nível de agora, ele diz que o ex-presidente democrata Barack Obama também não soube lidar com o país antes.

“Ele queria manter um relacionamento mais aberto com a China, mas não conseguiu porque se envolveu com a questão do Oriente Médio”, diz.

O futuro da economia e das relações econômicas e comerciais dos dois países continua um mistério. Em 2019, a guerra comercial entre os dois países atingiu um nível mais agressivos, com sanções americanas pesadas sobre os produtos chineses, mas as negociações continuaram e no começo de 2020, eles chegaram a um acordo. Para os dois economistas, os cenários possíveis agora são completamente diferentes.

Para o economista Leonardo Trevisan, a China sentiria fortemente o impacto de uma quebra ou ruptura dos acordos, já que os “chineses exportam, anualmente, aproximadamente 600 bilhões de dólares” para os EUA. O governo Trump compra pouco mais de 150 bilhões em produtos chineses.

“Quem vai perder mais são os chineses”, diz. “Os EUA precisam menos dos chineses do que os chineses dos Estados Unidos. A China perderia um grande freguês”.

Porém, para o especialista em China e Ásia Fausto Godoy, o impacto na China seria: “Nenhum”.

“Se você olhar o mapa econômica, os maiores parceiros da Ásia são os próprios países asiáticos. A Ásia se mantém a si mesma. No caso de uma catástrofe, o comércio é feito intra-Ásia”, explica.

Para os chineses, a relação com o Japão e a Coreia do Sul são mais importantes que com o ocidente, que é uma clientela extra. Em caso de problemas econômicos, a China encontraria e ampliaria negócios com parceiros já existentes, explica.

FONTE: R7.COM

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Marcio Martins martins

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