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Cuba encerra era Castro sem perspectiva de guinada política

Miguel Díaz-Canel, de 58 anos, deve se tornar o novo presidente da ilha; Raúl Castro continua no comando do Partido Comunista

Renovação, pero no mucho: o engenheiro Miguel Díaz-Canel, de 58 anos, deve se tornar nesta quarta-feira (18) o novo presidente de Cuba, pondo um fim à era dos irmãos Castro no comando da ilha. É improvável, entretanto, que o novo mandatário seja responsável por guinadas bruscas no que diz respeito à política cubana, segundo especialistas ouvidos pelo R7.

“Esse processo de transição no poder em Cuba tende a ser lento. O Raúl Castro está saindo, mas vai ficar até 2021 como membro da direção do Partido Comunista — responsável pelas políticas implementadas no país. Ele deve ser ainda muito influente. Fora isso, continuam em outros cargos a velha guarda da política, conhecida como geração histórica, que lutou na Revolução Cubana”, afirma Marcus Vinícius Freitas, professor de Relações Internacionais da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), de São Paulo.

Lillian Guerra, professora de História Moderna de América Latina e Caribe na Universidade da Flórida, nos EUA, vai além: “É importante lembrar que o Raúl Castro sai da presidência, mas não da liderança do consórcio de militares que controla 80% da economia cubana. É ali que mora o poder”, diz.

Perspectivas de modernização e passado militar

Díaz-Canel, que até esta quarta-feira ocupava a vice-presidência do país, já atuou como primeiro-secretário do Partido Comunista — cargo equivalente ao de governador — nas províncias de Villa Clara e Holguin, além de ter sido ministro da Educação Superior. “Ele é alguém que já faz parte do sistema, mas é conhecido por ser um pouquinho mais liberal do que os outros membros do Partido Comunista. Em 2013, ele apoiou os direitos da comunidade LGBT em Cuba e já teve episódios de se mostrar contrário ao banimento da internet e da restrição de manifestações contrárias ao governo”, lembra Freitas.

Lillian Guerra completa que Díaz-Canel costuma ser encarado como um dirigente mais civil do que militar, mas reforça que o passado do engenheiro mostra o contrário: “Ele foi membro das Forças Armadas de Cuba e atuou como conselheiro militar em uma missão internacional na Nicarágua na década de 1980. Isso não é pouco”.

De imediato, um dos grandes impasses de Díaz-Canel ao assumir o poder deve ser acelerar a economia cubana. Quando se tornou presidente, Raúl Castro se empenhou em aprofundar uma abertura de mercado que seu irmão, Fidel, iniciou após o colapso soviético, mas hoje deixa o poder sem completar muitas das reformas prometidas para o setor privado.

“A economia de Cuba sempre dependeu, de alguma forma, de alguém que lhe desse sustento na comunidade internacional. Inicialmente foi a União Soviética, depois a Venezuela. Mesmo o Brasil era um parceiro, com o Mais Médicos e outros programas que seriam implementados pelos governos de Lula e Dilma Rousseff. Só que atualmente, com o petróleo mais barato, a Venezuela em crise e o Mais Médicos não funcionando como deveria, é necessária uma reforma econômica. Eles estão em uma recessão e enfrentam também os desafios resultantes da temporada de furacões em 2017”, aponta o professor de Relações Internacionais da FAAP.

Dados do relatório Salário Médio em Cifras 2016, divulgado em junho de 2017 no site do Escritório Nacional de Estatística e Informação da ilha, apontam que o salário médio mensal em Cuba em 2016 foi de 740 pesos cubanos, equivalentes a pouco mais de 90 reais. O PIB do país em 2015, por sua vez, foi de US$ 87,7 bi (aproximadamente 273,81 bilhões de reais), segundo o Banco Mundial.

Visão otimista

Para o cubano Yuniesky Nieves, de 33 anos, que se mudou para o Brasil há um ano e sete meses e atualmente trabalha como professor de espanhol em Uba (MG), Díaz-Canel tem o desafio de fazer o povo cubano confiar em seu trabalho.

“Na nossa história recente, o presidente foi sempre alguém que lutou na Revolução Cubana, e isso garantia muita simpatia da população. O Díaz-Canel nasceu depois da Revolução, então não deve mais existir esse clima de ‘Viva Fidel!’, ‘Viva Raúl!’. Faz uns cinco anos que o governo começou a colocá-lo na televisão e em compromissos públicos, mas nós conhecemos pouco o trabalho dele. Como ele foi primeiro-secretário em algumas províncias, o desempenho dele é desconhecido em outras regiões”, declara Nieves.

De qualquer forma, o cubano sustenta uma visão otimista sobre o futuro político de seu país: “Sempre que muda de presidente, muda muita coisa pra gente. Antes do Raúl Castro, por exemplo, nós não podíamos comprar celular, micro-ondas, computador. Hoje podemos comprar e vender até nossas casas. Com o Díaz-Canel também deve mudar muita coisa. A primeira que eu espero que mude é a Constituição — algo que o governo de Cuba já vem elaborando há um tempo. Cuba quer mudar o sistema eleitoral para que o povo possa votar em seu próprio presidente e dar um pouco mais de liberdade às pessoas”, conclui.

FONTE: R7.COM

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Gomes Oliveira

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