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Ministério Público do Acre quer goleiro Bruno usando tornozeleira eletrônica até para jogar

O Ministério Público do Estado do Acre (MP-AC), por meio da 4ª Promotoria Criminal, pediu à Vara de Execuções Penais (VEP) da Comarca de Rio Branco que o goleiro Bruno Fernandes passe a usar tornozeleira eletrônica. Ele foi apresentado neste sábado pelo Rio Branco Futebol Clube e já treina com o elenco desde quinta-feira. O contrato é de seis meses e prevê a disputa da série D do Brasileirão, da Copa Verde e do Campeonato Acreano.

Condenado pelo homicídio triplamente qualificado de Eliza Samudio, além do sequestro e cárcere privado do filho que teve com a modelo, Bruno obteve a progressão de pena e está em regime semiaberto desde julho de 2019. O promotor Tales Fonseca Tranin solicitou que, além de ser monitorado eletronicamente, o goleiro apresente a carta de emprego ao Instituto de Administração Penintenciária (Iapen), exigência imposta a todos que cumprem pena neste regime.

O promotor ressaltou que Bruno deverá seguir outras regras, como se recolher após às 18 horas durante a semana e não sair aos domingos e feriados nacionais. Se os jogos acontecerem domingo ou à noite, ele precisa pedir autorização para ir. Pelo Instagram, o goleiro agradeceu e comemorou o retorno aos gramados.

“A todos os meus amigos, meus fãs que acreditam em mim e sempre me defenderam diante de todos os dedos apontados, é́ com muito orgulho que digo: ESTOU DE VOLTA!”, escreveu.

No Acre, detentos que fazem uso da tornozeleira eletrônica são proibidos de jogar bola para não danificar o aparelho. No caso de Bruno, porém, o MP-AC defende que o clube pague por possíveis danos ao equipamento. “Como ele veio para jogar futebol e este é o trabalho dele, pedi que o empregador arque com as consequências dos danos para não onerar o Estado”, disse Tranin.

Aos 35 anos, o goleiro deve estrear com a camisa do Estrelão no retorno do estadual, paralisado desde março por causa da pandemia do coronavírus. A expectativa da Federação de Futebol do Acre (FFAC) é que os jogos sejam liberados a partir da segunda quinzena de agosto.

Repercussão

Desde que obteve a progressão de pena, Bruno já chegou a ser anunciado por outros clubes que, diante da repercussão negativa e da consequente pressão de patrocinadores, desistiram de sua contratação. É o caso de Poços de Caldas (MG), Operário (MT), Fluminense de Feira (BA) e Barbalha (CE). O goleiro chegou a atuar em cinco partidas pelo Boa Esporte (MG) em 2017, mas o Supremo Tribunal Federal revogou seu habeas corpus e ele voltou à prisão.

No Rio Branco, o goleiro chegou sem alarde, mas foi tietado por alguns torcedores do Flamengo no aeroporto. As redes sociais do clube foram tomadas principalmente de críticas, mas houve comentários elogiando e defendendo Bruno.

A rede de supermercados Arasuper, até então o único patrocinador do clube na temporada, anunciou na última segunda-feira (27) a suspensão do contrato em virtude da contratação de Bruno e disse que não tem participação nas decisões do clube. Segundo a diretoria do Rio Branco, o apoio era restrito à alimentação dos times de base. O dono da rede, Adem Araújo, garantiu que o vínculo não foi encerrado e defendeu o goleiro.

“Suspensão, que não será definitiva. O presidente (Valdemar) Neto é um amigo e tem meu respeito. Não vejo motivo para tanta repercussão negativa. É um ser humano que merece uma segunda chance como qualquer outro, mas infelizmente, como nós somos comerciantes, a gente não pode ir contra a opinião pública”, disse, em entrevista ao GE.

Três dias depois, porém, o problema parecia resolvido. O Rio Branco anunciou na quinta-feira (30) que obteve o patrocínio de duas empresas do Rio por seis meses, mesmo tempo de contrato de Bruno. Uma delas, de materiais esportivos, será o patrocinador master do clube e terá a marca estampada na frente da camisa. A outra é uma empresa que agencia jogadores e deve ter marca fixada na parte de trás do uniforme. O presidente anunciou, ainda, que está fechando também com uma terceira empresa, de fabricação de luvas. O valor dos contratos não foi divulgado.

A treinadora do time feminino, Rose Costa, pediu desligamento e publicou nas redes sociais um pronunciamento justificando a decisão. Ela tinha sido anunciada pelo Rio Branco em janeiro para retomar as atividades da modalidade após quatro anos. Segundo Rose, ela se comprometeu a trabalhar com as categorias de base e uma profissional mesmo sem remuneração, por amar o clube e entender que o Rio Branco não tinha como pagar salários para o feminino. Em entrevista ao Papo de Mina, Rose reiterou seu posicionamento.

“O esporte de rendimento, principalmente o futebol, é também formação de cidadão, uma vitrine maior do que qualquer coisa. A vinda do Bruno não contribui para a formação cidadã da base e para a história linda do Estrelão. Como você vai trabalhar a formação de atleta e cidadão em um clube que contrata um goleiro que é um feminicida? Eu me nego a fazer parte disso. Não tenho nada contra o presidente e nem nada contra a diretoria, mas essa foi uma decisão infeliz”, disse.

Em resposta ao pronunciamento de Rose, o presidente do clube, Valdemar Neto, disse ao GE que o clube tinha outras opções para o cargo e que a saída dela não prejudicaria a equipe feminina.

“Na verdade, a gente tinha um negócio apalavrado antes da pandemia. Em não tinha contratado nada, não tinha assinado nada com essa senhora, apenas tinha apalavrado uma situação com ela. Vejo da seguinte forma, o Rio Branco tem três treinadores que estavam querendo tocar isso daí. Eu achei melhor, pra prestigiá-la, deixar ser a técnica já que o futebol era feminino. Mas isso aí pra mim é indiferente porque tenho gente que entende muito de futebol, que é treinador há algum tempo, e a gente não precisa da Rose para vir treinar o futebol feminino. Eu apenas quis prestigiá-la, por ser mulher, que a gente tratasse mulher com mulher”, disse.

Ao Papo de Mina, a treinadora lamentou a declaração e disse que ela demonstra o quanto o futebol feminino é desvalorizado no país.

“Fico muito triste, porque fica constatado então que o Bruno está indo para o lugar certo, com a presidência correta [para ele]. Além de não ter sensibilidade, ele é misógino. Isso demonstra o quanto o futebol feminino é discriminado e como a gente tem que aceitar goela abaixo tudo o que é imposto pela sociedade. Eu estou muito convicta da minha decisão. Não havia espaço para mim dentro do clube”, concluiu.

FONTE: EXTRA

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