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Acusado de matar Marielle pesquisou estudiosos e ativistas

Inquérito cita pesquisas a pessoas como o deputado Marcelo Freixo e a socióloga Julita Lemgruber

Ativistas e pesquisadores da área de direitos humanos dedicados à segurança pública foram alvos prioritários de pesquisas online feitas pelo PM reformado Ronnie Lessa ao longo do ano que antecedeu os assassinatos a tiros de Marielle Franco (PSOL) e Anderson Gomes em 14 de março de 2018. Acusado de ter feito os disparos, Lessa foi preso na semana passada com o ex-PM Élcio Queiróz, apontado como motorista do automóvel usado no crime. A Justiça já acolheu denúncia do Ministério Público contra os acusados por homicídio triplamente qualificado. Ambos, por seus advogados, alegam que são inocentes.

Na lista de objetos da pesquisa digital feita por Lessa, ao lado do deputado federal Marcelo Freixo e do deputado estadual Flávio Serafini (ambos do PSOL), aparecem os nomes de duas pesquisadoras da ONG Redes da Maré, uma especialista da Anistia Internacional e uma ativista da ONU Mulheres. Muito conhecidas por sua atuação na área de segurança, a socióloga Julita Lemgruber e a antropóloga Alba Zaluar também foram listadas, segundo o relatório final do inquérito da primeira fase do crime, assinado pelo delegado Giniton Lages, da Divisão de Homicídios.

“Este é um crime grave, e as investigações têm mostrado que se trata de um crime político, voltado para atingir um campo ideológico”, disse Serafini. “Pedimos esclarecimentos ao MP sobre o risco corrido por todas essas pessoas envolvidas, reforçando a necessidade de se encontrar o mandante do crime. A impressão que se tem não é de que se trata de um louco investigando a esquerda, mas sim um estudo sobre um determinado campo político que seria alvo de um atentado.”

Policiais responsáveis pela investigação do crime analisaram as buscas feitas por Lessa a partir de primeiro de janeiro de 2017 até o dia do assassinato. Em abril de 2017, Lessa começou a fazer levantamentos sobre o Freixo e alguns dos seus familiares. Em email mandado para si mesmo, ele debochou da defesa dos direitos humanos: “Adotem um bandido, viva o PSOL”, escreveu.

Curiosamente, Lessa também fez buscas sobre o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015), chefe do DOI-CODI de São Paulo durante a ditadura (1964-1985). Ele foi o primeiro militar a ser reconhecido pela Justiça como torturador.

“A análise incidente sobre o perfil das pesquisas indica singular obsessão pelo parlamentar Marcelo Freixo”, aponta o relatório, lembrando que foram mais de 30 pesquisas sobre o deputado. Em abril/17, no entanto, Lessa pesquisou também informações sobre deputado estadual Flávio Serafini. Em julho de 2017, o PM reformado ampliou suas pesquisas e buscou dados sobre pesquisadoras da ONG Redes da Maré e da Anistia Internacional.

“A gente acabou sabendo dessa questão em função da prisão dele na semana passada e por intermédio da imprensa”, afirmou a ativista Eliana Sousa Silva, diretora da Redes da Maré. “A minha questão é: desde quando a polícia e o MP sabem disso e por que só deixaram para divulgar depois da prisão?”

No mesmo mês, Lessa realizou pesquisas sobre Pedro Mara, diretor do Ciep 210, de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. O professor se envolveu em uma polêmica com o então deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL), que pediu seu afastamento da escola por ter uma folha de maconha tatuada no antebraço. Ao saber que seu nome aparecia nas buscas de Lessa, Mara anunciou pretender deixar o País.

No início de março de 2018, o PM reformado faz pesquisas sobre a Alba Zaluar e Julita Lemgruber. Ele também faz buscas sobre uma escritora e ativista da ONU Mulheres.

“A revelação de que os suspeitos de matar Marielle e Anderson estavam investigando nomes de pessoas que se dedicam à questão da garantia de direitos é muito grave e torna ainda mais urgente que a Polícia chegue aos mandantes dessas mortes”, afirmou Julita Lemgruber. Alba também considerou o fato grave. “Isso é muito ruim, uma interferência no processo democrático”, disse ela.

As pesquisas sobre Marielle Franco começaram apenas no fim de fevereiro do ano passado, quando Lessa buscou informações sobre políticos do Rio que foram contrários à intervenção federal na segurança do Estado. Como vereadora, Marielle tinha sido indicada relatora da comissão criada para acompanhar a ação militar.

Lessa buscou informações nas redes sociais de Marielle e, no início de março, começou fazer monitoramento mais específico dos deslocamentos da vereadora e de suas rotinas.

“Enquanto não tivermos a informação sobre quem mandou matar Marielle e sobre os motivos, viveremos essa situação dramática”, avaliou o ouvidor da Defensoria Pública, Pedro Strozenberg. “Porque o drama de quando não temos informação e esclarecimento é que todas as pessoas passam a ser alvos em potencial.”

Procurada ao longo do dia, a defesa de Ronnie Lessa não se manifestou.

FONTE: ESTADÃO CONTEÚDO

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