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Adélio Bispo vive isolado e se recusa a receber tratamento psiquiátrico na prisão

Como é a rotina na penitenciária federal do homem que tentou matar Bolsonaro a facada

Adélio Bispo de Oliveira, diagnosticado com transtorno delirante persistente, não toma medicamentos e se recusa a receber tratamento psiquiátrico na penitenciária federal de Campo Grande.

“Ele se recusa a tomar qualquer remédio desde que deu entrada aqui, mas isso será feito mesmo contra a vontade do meu cliente, agora que temos o diagnóstico”, explicou o advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, que defende Bispo.

O autor da facada no então candidato à presidência da República Jair Bolsonaro foi preso em flagrante no dia do atentado, 6 de setembro do ano passado, e transferido dois dias depois de Juiz de Fora, onde ocorreu o crime, para o presídio na capital de Mato Grosso do Sul.

Oliveira Júnior diz que a partir de agora a questão deixa de ser jurídica para se tornar oficialmente médica. O defensor se encontrou nesta sexta-feira (19) com Adélio Bispo no presídio em Campo Grande. Foi acompanhado por três advogados e também de um psiquiatra forense de São Paulo, contratado pela defesa.

O defensor explica que o tratamento involuntário será feito com base na Lei 10.216/2001 que autoriza cuidados psiquiátricos sem o consentimento da pessoa, a pedido de terceiro ou determinado pela Justiça.

O diagnóstico de Bispo surgiu após oito laudos psiquiátricos e psicológicos elaborados por médicos enviados à penitenciária pela defesa, pela acusação e também pela 3ª Vara Federal de Juiz de Fora. O caso foi dado como encerrado pelo juiz federal Bruno Savino que determinou a internação e o tratamento do detento por tempo indeterminado.

“Ele se recusa a receber cuidados, mas isso será feito. Segundo nosso psiquiatra, isso é imprescindível para a saúde dele”, explica Oliveira Júnior. O advogado diz ainda que a princípio o tratamento será feito na penitenciária federal de Campo Grande, o lugar mais seguro para garantir a integridade física do cliente, segundo o defensor.

O psiquiatra forense Hewdy Lobo Ribeiro, que integrou a equipe que visitou Bispo nesta sexta-feira na prisão, disse que o transtorno delirante persistente é uma doença na qual a pessoa não se reconhece doente, daí a recusa ao tratamento.

“Ele perde a capacidade de entender a realidade. Logo, como não se reconhece doente, o indivíduo não aceita tratamento. A gente acredita que Bispo se vê de forma distorcida, errônea e equivocada”, explicou Ribeiro.

De acordo com o psiquiatra, o transtorno delirante persistente se assemelha à esquizofrenia, mas com melhores condições de tratamento que a dos esquizofrênicos.

“Nesses casos, se fosse meu paciente eu receitaria Haldol Decanoato intramuscular uma vez por semana, 70,54 mg ”, disse Ribeiro, que afirmou que o remédio tem geralmente ótimo efeito, é barato e indicado para quem nunca fez tratamento psiquiátrico, o caso de Bispo. O psiquiatra disse, ainda, que o tratamento deve ser acompanhado de psicoterapia.

ISOLADO DUAS VEZES NA PRISÃO

Desde que deu entrada no presídio federal de Campo Grande, no dia 8 de setembro do ano passado, Adélio Bispo de Oliveira se mantém isolado de outros presos.

“Nos primeiro meses ele não falava nada, com absolutamente ninguém. A exceção eram os advogados de defesa, durante entrevistas no parlatório. Fora isso, nada”, revelou um agente que pediu para não ter o nome revelado.

O problema psiquiátrico do autor do atentado ao presidente Jair Bolsonaro não afeta sua rotina na prisão, segundo informou. Do ponto de vista disciplinar, o agente disse que ele “não traz prejuízo algum aos demais presos ou à administração da cadeia”. É considerado tranquilo.

O agente conta que Bispo às vezes fala frases desconexas e escuta sons que não existem, como barulho no telhado. “Aqui é totalmente silencioso. Se ele tem problema eu não sei. O que sei é que se comporta assim desde que entrou aqui. Sempre quieto e na dele. Não fala nem mesmo com outros presos durante as duas horas diárias de banho de sol a que tem direito. Não fez amizades aqui”. Bispo passa 22 horas do dia na cela, a exemplo dos outros internos.

O agente o classificou como “um preso irrelevante que foi incluído no Sistema Prisional Federal como um preso protegido, que poderia sofrer um atentado contra a própria vida se estivesse sob custódia em uma prisão estadual”.

Hoje 150 presos ocupam o presídio federal de Campo Grande. Há vagas para 208 detentos. Bispo fica em um setor separado para presidiários com menor periculosidade, que são os protegidos, os colaboradores ou os de colarinho-branco.

A outra ala é ocupada por detentos considerados mais violentos como homicidas, narcotraficantes e chefes de facções criminosas de todas as regiões do Brasil como o PCC, o Comando Vermelho, a Família do Norte, a Bala na Cara, Os Abertos, o Sindicato do Crime e os Guardiões do Estado (GDE).

Bispo passa o dia lendo, normalmente a Bíblia . Os detentos também recebem semanalmente revistas e livros que passam por censura prévia. Matérias que incitam violência ou rebeliões, por exemplo, são retiradas das publicações pelos agentes.

O autor da facada no atual presidente não recebeu visitas de familiares até hoje. Eles alegam não ter dinheiro para viajar de Minas Gerais a Mato Grosso do Sul. Bispo, que tem 1,80 metro de altura, está visivelmente mais magro, abatido e envelhecido desde que foi preso, segundo seu defensor.

Ele evita conversar até mesmo com outros detentos durante o banho de sol. Fica sozinho. A única visão que tem, assim como os demais presos nesta unidade, é a do céu. Vive em uma cela de 6 metros quadrados, de 2 x 3 metros, onde são servidos o café da manhã, um lanche da tarde, o almoço, o jantar e um lanche noturno.

Os presos não têm controle sequer da luz nas celas, onde não há interruptores. Elas são acesas externamente ao cair da tarde, por volta das 18 horas, e apagadas impreterivelmente às 22 horas. Até os banhos são controlados por fora. A água cai por um buraco no teto antes do almoço e no fim da tarde. Não há janelas.

Desde sua inauguração, em 2006, três presos já cometeram suicídio no presídio federal de Campo Grande, sempre por enforcamento com o próprio lençol, dentro das celas individuais. “Aqui não é qualquer um que aguenta. Todo controle da prisão está em nossas mãos. Aqui quem manda somos nós e os presos obedecem”, contou o agente.

Na chegada os detentos são orientados sobre o que podem e não podem fazer. São proibidos de receber alimentação ou presente de parentes. Tudo é ofertado pelo presídio: do uniforme azul celeste à pasta de dente, talheres de plástico, toalhas, itens de higiene, lençóis, agasalhos e cobertores.

Casos de indisciplina são punidos com severidade e os banhos de sol são suspensos, deixando o preso 24 horas do dia em confinamento.

Das celas é impossível ver a paisagem lá fora, uma área rural a aproximadamente 15 quilômetros do centro da capital sul-mato-grossense. Fica ao lado do lixão da cidade. O cheiro é insuportável, principalmente nos dias de sol e quando o vento está na direção do presídio.

Os presos só recebem visitas de parentes e advogados no parlatório, de segunda-feira a sexta-feira, onde áudios e vídeos são gravados.

FONTE: ÉPOCA

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