Em Linhas Gerais

E os assobios sumiram das ruas desse tempo triste – Por Gessi Taborda

FILOSOFANDO

“O que o Congresso Nacional simula produzir é mais em função de interesses de grupos e de cobertura eleitoral do que do interesse efetivo da coletividade”. CARLOS LACERDA, nasceu em Vassouras (RJ) em 1914, morrendo em 1977, no Rio. Foi governador da Guanabara, político membro da UDN, jornalista, dono do extinto jornal Tribuna da Imprensa.

EDITORIALZIM

Não poderia ter ganho um presente maior na minha existência do que a família que tenho. E nessa semana dois fatos marcados pelo calendário me permitem registrar o orgulho que tenho dos membros dessa família. Ontem foi o aniversário do meu filho Aldrin Willy Mesquita Taborda, dedicado servidor do Tribunal de Contas do Estado, jornalista, bacharel em direito (aprovado no exame de ordem da OAB) e engenheiro de sistema (informática). Mas isso não é o mais importante. Acima de tudo isso está seu caráter ético com suas ações profissionais, políticas e familiares.

Herdou certamente essas características marcantes de sua mãe, a dra. Conceição Mesquita Taborda, formada em fisioterapia e também em enfermagem pelo Cotil, colégio técnico da Unicamp. Bem, como enfermeira, como professora e em tudo na vida sempre mostrou dedicação, como agora na sua função de servidora pública da União. Por isso vou aproveitar esse gancho de sua formação para também falar de uma efeméride comemorada no último dia 12, registrando essa homenagem a todas as enfermeiras de Porto Velho e do Brasil.

O Brasil celebra em 12 de maio o Dia do Enfermeiro, o profissional que ao lado de médicos e assistentes estão na linha de frente da batalha contra a Covid-19. Não é por outro motivo que os enfermeiros são considerados hoje os novos super-heróis, aplaudidos em muitos países pelo trabalho que realizam em tempos de epidemia. No mundo todo, são os profissionais que enfrentam maior risco devido à proximidade com os pacientes e estão entre as principais vítimas do novo coronavírus. No Brasil, os números são trágicos. Até o dia 6 de maio, 73 profissionais haviam morrido em consequência da doença por contaminação em ambiente de trabalho.

A enfermagem é uma profissão que exige formação de nível superior específica e atrai tradicionalmente mais mulheres. Na cidade elas são 78% da categoria. Há uma unanimidade entre os profissionais sobre o que os levaram a abraçar essa carreira: só faz enfermagem quem tem vocação para cuidar do próximo. A atuação dos enfermeiros tem mostrado uma categoria profissional na linha de frente do combate do coronavírus nos hospitais brasileiros e por isso tantos deles têm adoecido e muitos estão morrendo em uma taxa alarmante.

Os Estados Unidos, que tem o maior número de vítimas da pandemia do planeta — quase 1,4 milhão de casos confirmados e 80 mil mortes –, havia perdido até a semana passada somente 46 profissionais de enfermagem, segundo entidades de classe.

O que ocorre no Brasil, segundo os profissionais, é que eles estão mais expostos. Os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) corretos não estão disponíveis para todos os profissionais espalhados por todos os Estados da federação. Além de equipamentos não adequados, muitas equipes não receberam treinamento para o uso dos EPIs e acabam por se contaminar pelo uso inadequado ou na hora da retirada dos equipamentos. A falta de profissionais de saúde também tem obrigado a turnos muito longos de trabalho, o que aumenta o risco de contágio.

Embora os enfermeiros sempre neguem que sejam os novos heróis, em vários países europeus médicos e enfermeiros são aplaudidos com frequência em locais públicos pelo trabalho que estão realizando e esse reconhecimento levou muitas pessoas a sugerir que o Prêmio Nobel da Paz deste ano seja dado aos profissionais da saúde que morreram no combate à pandemia. O prêmio, que já foi dado a políticos que nem sempre o mereceram, poderia ser outorgado à memória desses profissionais que estão sendo vítimas de sua devoção ao trabalho e de salvar a vida dos outros. Exemplos de vida e de generosidade.

ELEITORES

Mais de 1 milhão de pessoas buscaram na internet serviços como o de regularização do título de eleitor na Justiça Eleitoral. Por meio da ferramenta Título Net, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atendeu a esta e a outras demandas, de forma a evitar que os interessados em participar das eleições municipais de 2020 tenham de se deslocar, aumentando o risco de contaminação pelo novo coronavírus, causador da covid-19. Segundo o TSE há uma previsão de que todas as demandas sejam analisadas pela Corregedoria-Geral Eleitoral (CGE), órgão do TSE, até o dia 3 de junho, data em que está prevista a divulgação do número de eleitores que tiveram a situação cadastral regularizada para participar do pleito que escolherá os prefeitos e vereadores de sua cidade.

DESEMPREGO

Os pedidos de seguro-desemprego de trabalhadores com carteira assinada subiram 22,7% em abril, mesmo com a suspensão dos atendimentos presenciais nas unidades do Sistema Nacional de Emprego (Sine). O levantamento foi divulgado ontem pela Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia. A própria secretaria, no entanto, estima que os dados para o ano podem estar subestimados em até 250 mil pedidos. Isso porque diversos trabalhadores sem acesso à internet não estão conseguindo pedir o benefício nas unidades do Sine, que estão com o atendimento presencial suspenso por causa da pandemia de Covid-19. Embora os requerimentos possam ser feitos de forma 100% digital e sem espera para a concessão do benefício, o Ministério da Economia informou que os dados indicam que muitos trabalhadores continuam aguardando a reabertura dos postos do Sine, administrados pelos estados e pelos municípios, para darem entrada nos pedidos.

OUTRAS DOENÇAS

O Covid19 continuará sendo o grande assunto da mídia por muitos dias. Todavia, há várias outras doenças atacando um número cada vez maior de brasileiros. Algumas das doenças que avançam sobre o País ou têm vacina que garante a prevenção ou podem ser evitadas por conta do comportamento da população. O que assusta é que mesmo uma pandemia amedrontando o mundo e em uma curva ascendente no Brasil, não leva as pessoas a se preocuparem com a limpeza de quintais, terrenos baldios ou mesmo áreas públicas, onde ocorre a proliferação do mosquito.

SEM VACINA

Não existe vacina contra a dengue, mas sabemos que se eliminarmos os focos do Aedes Aegypti interrompemos a propagação da doença. Mesmo assim, pela falta de colaboração dos moradores o número de criadouros do mosquito nas cidades estão crescendo, especialmente pela temporada de chuvas.

Além da dengue, o sarampo avança no Brasil. O País havia recebido da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) em 2016 o certificado de erradicação da doença, mas dois anos depois ela voltou a fazer vítimas nos Estados do norte do país e depois se espalhou por quase toda a federação. Hoje temos a transmissão ativa do sarampo em 19 Estados. O sarampo é altamente contagioso. Enquanto na Covid uma pessoa infecta de duas a cinco pessoas, o sarampo vai de 16 a 18. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram registrados 2.805 casos confirmados da doença, um crescimento de 18% em apenas uma semana. Existe vacina eficaz contra o sarampo, o problema e que muitos pais têm deixado de levar seus filhos para vacinar, o que abre uma janela para a expansão da doença.

GRIPE

Consegui vacinar anteontem contra a gripe H1N1 no posto de saúde próximo do comando da PM, na avenida Tiradentes. Tinha bastante pessoas na fila. Há uma exigência burocrática que quase me levou a desistir. É necessário a apresentação do cartão do SUS para conseguir a vacina. Eu não tinha. Algo que pode ser resolvido no próprio posto mas nem sempre a funcionária demonstra boa vontade para isso. A vacinação contra a gripe, que é destinada a alguns grupos de risco, está sendo bem aceita pela população, que entendeu ao apelo das autoridades da área da Saúde.

A vacinação vai até o dia 5 de junho. A vacinação contra a gripe deixa imunes boa parte das pessoas que pertencem ao grupo de risco e elimina a necessidade de internações por problemas respiratórios, deixando os leitos para os enfermos com Covid-19. Seguir as orientações das autoridades da área da Saúde continua sendo uma maneira mais segura de evitar não só a Covid-19 como outras doenças que ainda não conseguimos eliminar.

RECEITA

As receitas do município já sentem a crise econômica em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Com apenas as atividades essenciais em funcionamento no comércio, as receitas de Porto Velho tiveram, segundo fonte bem informada, uma queda de quase 30 por cento em ICMS. Com o prolongamento da quarentena a previsão é de uma queda ainda maior. A queda é esperada. Quanto menor a atividade econômica, menor geração de renda e, consequentemente, menos impostos gerados.

CRÔNICA

É claro que o tempo não para e nem retorna. E dá para perceber seu inexorável avanço numa rota que nada me agrada. E olha que percebi isso muito antes de alguém imaginar essa coisa horrenda do Covid19. Lembro-me de ter comentado com meus filhos e amigos diletos de que a população estava se emudecendo, esquecendo das coisas mais sensíveis. É, será que vocês notaram que as pessoas não assobiam mais, especialmente nas ruas? Antigamente, quando ninguém enchia o corpo de tatuagem e nem pendurava argolas no nariz, nas ruas, em seus caminhares calmosos, as pessoas assobiavam. Um assobio aqui, outro acolá – e eis que se formava uma sinfonia cotidiana.

Havia – especialmente entre os jovens – um desafio musical. Perguntava-se, um a outro: “Que música você tem agora na cabeça?” Pois as pessoas tinham, em qualquer momento, música na cabeça. E, sem que o percebam, acho que ainda têm. Eu, por exemplo, estou escrevendo agora essa coluna ouvindo boa música (Jorge Veiga, Ângela Maria, Zilá Fonseca). A música é parte essencial da vida, do mundo: a brisa canta baixinho, o temporal é o grande tenor ao lado de trovões e raios que estalam. Passarinhos, grilos, cigarras, cantam. E o homem também. Antes, ele cantava livremente. Agora, no silêncio de si mesmo. Em sua angústia, em seu desespero. Um quase “réquiem”.

Pensei estivesse, minha alma, imune a grandes angústias, tantas já as conhecera ao longo da existência. Foi pretensão, excesso de confiança. Mesmo que nada houvesse mudado em minha realidade digamos que ambiental – o mesmo isolamento, as mesmas condições de serenidade – a vida espiritual fora-me atingida. Machucada. O vírus, a dor planetária, o absurdo da situação brasileira, essa mediocridade assustadora – tudo me contaminara. Noites inquietas, sono interrompido e pesado, ansiedade, a incerteza diante do que não compreendemos, a dúvida entre saber dos acontecimentos ou evitá-los, na louca vontade de, evitando-os, acreditar não mais existissem.

Hoje eu acordei feliz para trocar ideias com o meu filho aniversariante. Todavia, confesso que em outros dias tenho acordado com a alma pesada, com o sabor da tristeza, a vontade de continuar dormindo para não saber de todo esse ataque virótico, do coronavírus e de Brasília. E só continuo por repetir o verdadeiro cerimonial de ouvir a algazarra dos pássaros no meu café da manhã. O céu inteiramente límpido, uma explosão de flores e de cores nas árvores, a passarinhada voando e garrulando cria impacto reprovando a minha desesperança, a minha tristeza com o que estão tentando fazer com esse nosso lindo país. E aí digo para a minha mulher que ainda não se aposentou: “Vamos continuar o trabalho e mandar tudo o mais para o inferno?”, como na música que alegrou nosso namoro. O inferno na verdade são os outros, políticos, mercantilistas da mídia, exploradores de desgraças e exterminadores de esperanças…

AUTOR: GESSI TABORDA –  JORNALISTA –  COLUNA EM LINHAS GERAIS

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