Cultura

Festival traz 50 filmes com material de acervo e sobre a capital fluminense

Depois de perder o Recine, Arquivo Nacional estreia nova mostra com curtas e longas

RIO – O artista plástico Paulo Simões perguntou à sobrinha: “Por que você não faz um filme sobre o Rio de Janeiro?”. Juliana de Carvalho, então, iniciou a sua pesquisa. Deparou-se com documentários sobre Paris, Nova York e Londres que focavam no desenvolvimento de suas respectivas cidades a partir de construções e da arquitetura. Foi aí que ela teve uma epifania: muito se falava sobre o carioca, mas raramente sobre o Rio como personagem. Foi com isso em mente que ela criou “São Sebastião do Rio de Janeiro — A formação de uma cidade”, destaque da programação da primeira edição do Arquivo em Cartaz — Festival Internacional de Cinema de Arquivo, que começa nesta segunda e vai até sexta-feira.

O evento traz 50 filmes nacionais e estrangeiros, em sessões espalhadas entre o Arquivo Nacional, o Espaço BNDES e o Cine Arte UFF, em Niterói. As obras foram selecionadas com dois critérios primordiais: primeiro, deveriam utilizar imagens de arquivo; depois, tinham que discutir, de alguma forma, a capital fluminense — uma forma de homenagear os 450 anos da cidade.

No caso do longa-metragem de Juliana, o recorte é amplo, exatamente como sugere o título: a cidade é perfilada usando como gancho o desenvolvimento industrial e econômico que a tornou, num determinado ponto da História, um símbolo do progresso. Fala da chegada dos europeus, passa pela multiplicação dos engenhos e culmina num retrato contemporâneo, utilizando imagens filmadas com drones.

— Além de recorrer a recursos de computação gráfica para recriar o passado, desde o início eu queria usar imagens de arquivo, porque o objetivo era fazer uma viagem no tempo — diz Juliana — O Rio não é maravilhoso só para você e para mim. Também é especial para as pessoas que viveram no passado. Foi um lugar de glória.

Há ainda uma reflexão sobre o futuro:

— Estamos num momento crucial, não só de reformas, mas de mudança de atitudes também. Se esse Rio não olhar para trás e para seus recursos sustentáveis, e como resolver seus problemas do século XXI, corremos o sério risco de perder o título de Cidade Maravilhosa.

O Arquivo em Cartaz substitui o tradicional Recine, que desde 2002 era realizado na sede do Arquivo Nacional, no Centro do Rio — e que agora deve ganhar uma nova edição, num espaço diferente e sem envolvimento do órgão. A separação ocorreu porque a parceria entre o Arquivo Nacional e a Rio de Cinema, produtora responsável por operacionalizar o evento, foi encerrada.

O diretor-geral do órgão, Jaime Antunes da Silva, explica que o novo festival surge com o objetivo de retomar os princípios idealizados pelo anterior. Segundo ele, esses princípios foram se perdendo ao longo dos anos, o que provocou o rompimento do contrato entre o Arquivo Nacional e a produtora.

— Nosso festival agora está exaustivamente vocacionado em buscar a importância do patrimônio filmográfico, que se traduz em sua preservação e no alerta de sua fragilidade. A gente quer perpetuar essa mensagem, já que se trata de um festival anual.

Para garantir as próximas edições, Antunes da Silva firmou parceria com outra empresa, a Universo Produção, encarregada, entre outras coisas, de dar consistência à programação.

Os filmes estão divididos em seis mostras temáticas. A única competitiva, chamada Cinema de Arquivo, é aberta a todos os gêneros, e traz 20 filmes, entre longas, médias e curtas, não necessariamente inéditos.

Competem pelo Prêmio Batoque, que será entregue numa cerimônia programada para o dia de encerramento do evento, as obras “Mário Lago”, “Verão da lata”, “Geraldinos”, “Joel e Gianni”, “Anita”, “A casa do Mário”, “Vacanze al Mare”, “Elena”, “O ano do saque”, “Eu vi”, “A história oculta”, “Formato ridotto: Libere riscritture di cinema amatoriale”, “Tudo vai ficar da cor que você quiser”, “Boogie-Woogie na favela”, “Miragem”, “Boa morte”, “Valentina”, “Nessa cidade todo mundo já bebeu na bica”, “Nitrate Flames” e “Tropicália.”

Já a seção Rio em Movimento, da qual o filme de Juliana faz parte, é composta por pré-estreias nacionais. Completam a programação da mostra os títulos “Paisagem carioca — Vista do morro”, de Marco Antonio Pereira; “Eu sou Carlos Imperial”, de Renato Terra e Ricardo Calil; e “Arpoador — Praia e democracia”, de Hamsa Wood e Helio Pitanga.

Hoje, dia de abertura do Arquivo em Cartaz, há a exibição da maior raridade do festival, o curta-metragem “Família movie”. O filme traz alguns dos registros mais antigos do audiovisual brasileiro, com cenas produzidas por um cinegrafista desconhecido, no fim dos anos 1920 e começo da década de 1930.

— O curta mostra uma família durante um aniversário no subúrbio carioca, no Méier. É um material raríssimo — explica o curador Antônio Laurindo.

Para Antunes da Silva, a importância da preservação de material visual vai além do âmbito cinematográfico.

— A produção do cinema, seja ficção ou documentário, é um material cultural que reflete manifestações de uma época. As imagens passam mensagens que podem ser usadas no futuro. Portanto, também transmitem aos cidadãos a consciência patrimonial.

Fonte: oglobo

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Gomes Oliveira

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