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Público de Parada LGBT toma orla para cobrar políticas públicas e o fim da homofobia

A 19ª Parada do Orgulho LGBT do Rio levou neste domingo cerca de 1 milhão de pessoas à orla de Copacabana, segundo a organização do evento, e mostrou que é, sim, um ato político. Seja pelos militantes que entoaram seus discursos ou por meio daqueles que fizeram da roupa seu manifesto, os participantes se uniram em torno de temas como criminalização da homofobia, casamento igualitário e apoio familiar.

— Se imaginarmos que ainda há uma grande parcela de LGBTs que vive escondida nos guetos e neste dia está se mostrando, andando de mãos dadas ou se beijando, isso prova o caráter político do evento. Fala-se em carnavalização, mas o carnaval também reivindica — refletiu o diretor sociocultural da ONG Grupo Arco-Íris, que organiza o evento, Julio Moreira.

E a lista de reivindicações era extensa. Como expôs o presidente da ONG, Almir França, ainda faltam políticas públicas para a população LGBT, bem como leis federais que assegurem seus direitos.

— Nas eleições, muito se falou sobre nós. Parecia que éramos uma moeda muito valorizada. Mas não podemos achar que isso é tudo. Precisamos de ações. As travestis ainda não estão nas escolas e os colégios ainda não incluíram a diversidade sexual em suas discussões — exemplificou.

A família também esteve em debate. Um dos trios elétricos era dedicado à desconstrução do que vem sendo difundido como modelo tradicional, composto por casais heterossexuais.

— Fundamentalistas nos atacam dizendo que somos contra a família, quando nossa luta é justamente valorizar esse tipo de relação. Queremos acolhimento dos nossos familiares. Além disso, quando pautamos a união civil, é justamente por acreditarmos no patrimônio que é a formação de uma família — disse França.

Para reforçar este discurso, o aposentado Avelino Fortuna, de 59 anos, veio de Goiás para participar do evento. Seu filho, o jornalista Lucas Fortuna, que foi assassinado em 2012, aos 28 anos, era gay e ficou famoso ao usar saias como forma de protesto. O ato foi repetido neste domingo por outros rapazes e pelo pai.

— É emocionante perceber que, após dois anos, ele ainda é lembrado. Cabe a mim não deixar a luta dele morrer. Não quero ver ninguém passar pelo que ele passou. Enquanto a homofobia não for criminalizada, isso não vai mudar.

Se a saia era um instrumento de protesto nas mãos de Lucas, ao longo de toda a parada não faltavam participantes que fizeram da roupa o seu meio de reivindicação. O guia de turismo Ludvick Rego, de 24 anos, era um deles. Com fantasia inspirada na personagem Malévola, ele usava tapa-sexo, asas de penas pretas, um sapato com salto de 20 centímetros e estava com os chifres da personagem.

— Gosto de “causar” — afirmou, enquanto era assediado por dezenas de pessoas que queriam tirar uma foto dele. — Mas essa roupa também é um ato de liberação. Mostra que o corpo é meu e faço o que quero com ele.

O coordenador especial da Diversidade Sexual do Rio, Carlos Tufvesson, lembrou números que ilustram como a intolerância é um problema crônico no Brasil. Segundo ele, levantamentos apontaram um aumento de 47% nos crimes de ódio contra LGBTS no ano passado e uma ONG francesa divulgou que o Brasil é o país que mais mata transexuais e travestis.

— Temos que mostrar que ninguém precisa ser gay para lutar contra a homofobia. É uma questão de direitos humanos. E, como tal, deve estar acima de ideologia e orientação sexual.

O deputado estadual Carlos Minc (PT) também esteve presente e convocou o público a lutar contra o preconceito.

— Tremei reacionários e conservadores. A sociedade vai dar uma resposta a esse ódio. E essa resposta sempre será o povo nas ruas, pedindo mais liberdade e amor — disse, na abertura do desfile.

Em meio à multidão, a aposentada Teresa Silva, de 67 anos, era só alegria. Para ela, que é lésbica, ver tamanha diversidade na rua tem sabor especial:

— Descobri minha sexualidade aos 12 anos, e até os 40 fui reprimida por familiares e amigos. A gente não podia dizer que era gay. Hoje as coisas estão melhores. Mas acho que o mundo ainda precisa se abrir mais. O que importa é ser feliz.

Fonte: O GLOBO

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